Rock na caatinga - parte 1

Rock não acontece só em cidades grandes e capitais. O festival Rock Sertão, que é sediado em Nossa Senhora da Glória e em maio deste ano teve a sua sétima edição, vem provando isso já há algum tempo – e cada vez com mais força. A história do evento se mistura com a da banda gloriana Fator RH, que tem os integrantes Danilo Santana e Kléberson Souza na organização da festa, formada ainda por Alex Aragão, Jefeson Melo e Fábio Aragão. Fique abaixo com a primeira parte da entrevista que Bis! fez com Danilo e Jefeson.

Bis!: Mudou muita coisa da primeira edição do Rock Sertão até a última?

Jefeson Melo: Muita coisa. Só não mudou a vontade que a gente tem de fazer.
Danilo Santana: Mudou tudo: da estrutura à quantidade de dias, de bandas e de público. O primeiro Rock Sertão aconteceu em apenas uma noite, com três bandas, a Fator RH [Nossa Senhora da Glória], a Urublues (Itabaiana) e a The End (Poço Redondo), num palco pequeno... Hoje temos 14 bandas de todo o Estado em dois dias.
Jefeson: É bom acrescentar o tempo que o festival passou inativo... Dois anos, não foi, Danilo? [2002 e 2003]
Danilo: Isso.

Bis!: O que houve?

Danilo: Falta de apoio...
Jefeson: Em suma foi isso, na região que a gente “mora” rock era coisa de outro mundo.

Bis!: Qual foi a motivação para fazer o evento?

Danilo: Acho que só tivemos a idéia do que é o Rock Sertão há dois anos. O motivo até hoje é o amor pela música, produzir algo que acreditamos, [fazer] um contraponto à hegemonia cultural. Vivemos em Glória, ou melhor, em todo o Estado, uma vulgarização da cultura. O que se tem na rádio é sempre “mais do mesmo”. Ao longo do tempo, tocando com a Fator RH, a gente foi conhecendo muita gente boa, muito músico bom que não tinha espaço. E a coisa é ainda mais difícil para as bandas do interior.
Jefeson: A gente também sempre quis dar mais espaço para a galera do interior. Existem várias bandas legais perdidas no interior do Estado, praticamente sem recursos e espaço para divulgar o próprio trabalho. Nós achamos que o trabalho das bandas do interior é algo que as pessoas precisam conhecer.

Bis!: Mas o festival vem crescendo, e essas bandas ganhando alguma visibilidade. A partir de que momento vocês perceberam uma mudança, uma espécie de “guinada”?

Jefeson: Acho que a gente só veio a cair na real mesmo na sexta edição, quando o festival começou a ter um caráter mais profissional.
Danilo: Sem apoio nada é possível. De início o apoio era mais pessoal...

Bis!: Como assim?

Danilo: Fábio que conhece algumas pessoas no comércio, Binho [Kléberson Souza] também.
Jefeson: Antes a gente recebia apoio somente do comércio local. Como é de costume em cidades pequenas, a maioria das pessoas se conhece.
Danilo: Então era mais por conhecer a gente e nossa seriedade e organização em relação ao festival do que necessariamente apostar nele. Hoje a coisa é diferente. A cada ano temos apoios diferentes.
Jefeson: Esses apoios pedem um certo profissionalismo da nossa parte.
Danilo: O Festival tem um nome, a gente não aparece mais do nada.
Jefeson: A burocracia aumenta quando se fala em patrocínio de grande porte – se bem que não temos nenhum patrocinador de altíssimo porte. Ano passado fomos agraciados pelo apoio do Governo do Estado, que foi super importante para o crescimento do festival.
Danilo: Até porque é mais fácil conseguir patrocínio para trazer uma banda de fora do que sustentar um festival com artistas locais.

Bis!: Isso não acaba sufocando algumas possibilidades de trabalhar mais com o que é feito aqui? O que vocês acham disso?

Danilo: Temos certeza de que o justo seria que todas as bandas ganhassem cachê, mas ainda não é possível. É preciso dar apoio às bandas, e apoio financeiro também.
Jefeson: A nossa meta é que todas as bandas ganhem uma gratificação.
Danilo: Além do espaço para divulgar o trabalho... Não digo no Rock Sertão em si, já que só tivemos um artista de fora uma vez [Zeca Baleiro, Rock Sertão 6], e foi o Governo do Estado que bancou tudo. Essa dificuldade é algo mais geral... Então, qualquer projeto parecido com o Rock Sertão está fadado a grandes dificuldades financeiras.
Jefeson: No Rock Sertão, a dificuldade em contribuir financeiramente com as bandas se dá por conta de toda a logística que envolve o festival. Toda a verba arrecadada se vai no item estrutura.
Danilo: A nossa sorte é o apoio conjunto... Das próprias bandas de Sergipe que apóiam o festival, que correm atrás também...

Bis!: É um grande trabalho em grupo, então. De vocês e das bandas interessadas.

Danilo: E de muito mais gente.

Bis!: Quem, por exemplo?

Danilo: De padre Márcio [padre Márcio Gonzaga, de Nossa Senhora da Glória, que incentiva o festival], dos amigos, das namoradas...
Jefeson: Dos pais – vide a mãe de Binho, que alimentava grande parte das bandas.
Danilo: Com certeza... Da galera que divulga, afinal o público é fundamental para se conseguir apoio. É imperativo mostrar que a cena existe e é forte no Estado.
Jefeson: Nós já fidelizamos um grande número de expectadores, que também ajudam bastante na divulgação do festival.

Por Ricardo Gomes


1 comentários:

Michel Oliveira disse...

A proposta da matéria é bem legal, só precisou de uma edição para nã ficar tão grande.

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