Rock na caatinga - parte 2

Segunda parte da entrevista com Jefeson Melo e Danilo Santana, membros da organização do festival sergipano de música Rock Sertão. Para ver a primeira parte, clique aqui.

Bis!: Dá para perceber que vocês se utilizam bastante de sites e blogs na divulgação.

Danilo Santana: Crivo [Jefeson] é o grande responsável por isso. Mas, querendo ou não, a net é hoje a forma mais barata e rápida para divulgar o festival... A exemplo de muitas bandas que fizeram sucesso graças a ela, como Mallu Magalhães, Teatro Mágico.
Jefeson Melo: Hoje em dia, as redes sociais são o melhor meio para a divulgação de eventos, principalmente eventos como o Rock Sertão, que não tem uma verba específica destinada para isso. A maior parte do nosso público alvo usa internet, usa as redes sociais, lê blogs e tudo mais, acho que essa forma de divulgação é uma das mais eficiente.
Danilo: E forma também de convidar as bandas novas para divulgar o seu trabalho no festival.
Jefeson: Esse ano, por conta dos imprevistos, as ações de divulgação foram muito tardias e uma coisa que acabou surpreendendo foi o reflexo de uma divulgação que só vinha rolando na internet.

Bis!: Como é que foi isso?

Jefeson: Bom, trinta dias antes do festival nós fomos surpreendidos com uma notícia muito chata, o Governo estava fazendo contenção de despesas e tudo o mais e não pôde nos apoiar. Uma parte do apoio era justamente [para] divulgação... TV, rádio, impressos... Então rolou a estratégia mais louca dessa edição: fazer divulgação sem dinheiro. Aí é que entraram jornais, sites e nós mesmos, que nos sacrificamos para imprimir alguns cartazes e flyers. Esse ano a gente usou um recurso que não havia sido usado nas outras edições, que foi o mailing. Cerca de duas mil pessoas receberam e-mails quase diários na semana que antecedeu o festival.
Danilo: Como te disse, o festival já tem algum nome. Então há um interesse da imprensa em divulgar também. E isso é fundamental, já que, como Crivo disse, o recurso é pouco. Não é mais um evento de curiosos. Temos um público que gosta de rock, que conhece as bandas de Sergipe, e isso é um avanço muito grande. Próximo ano será a oitava edição e ninguém se assusta mais se escutar Hardcore ou Power Metal, por exemplo. Queremos ir a outras cidades, divulgar no Estado todo, pregar cartaz em tudo que é canto. Acreditamos que temos um bom festival, organizado, com bandas de ótima qualidade. Mas é preciso divulgar mais.

Bis!: Além dos que se envolvem diretamente, que tipo de reação vocês percebem nas pessoas da cidade, de Glória?

Jefeson: Acho que a gente acabou vencendo um pouco do preconceito que muita gente tinha.
Danilo: Temos um bom índice de pessoas de outras cidades...
Jefeson: De outros Estado também. Como Glória é uma cidade um pouco próxima da Bahia e de Alagoas, várias pessoas acabam indo ao festival.

Bis!: De que lugares vocês percebem uma presença maior de pessoas?

Danilo: Temos um bom público de todo o sertão: Canindé [de São Francisco], Poço Redondo, Carira... O pessoal de Itabaiana sempre comparece também. Como todo ano tem banda de uma cidade diferente, então agregamos públicos de outras cidades.
Jefeson: Uma coisa que se tem notado é o aumento do público da capital.
Danilo: Já não existem em Aracaju festivais como o Rock Sertão. O Punka acabou, o Rock-SE, o Aracaju Rock... A galera então tem acompanhado o Rock Sertão...
Jefeson: Hoje os eventos de rock que acontecem em Aracaju têm um público bem específico, e o que difere o Rock Sertão desses eventos é a diversidade. O Rock Sertão é um evento de rock, independe de uma vertente específica, tentamos agradar a gregos e troianos.

Bis!: Quais são as expectativas para a oitava edição? O que vocês aguardam dela?

Danilo: Primeiramente, mais apoio do que esse ano. O corte de governo a 30 dias do festival foi muito difícil, estamos saldando as dívidas até agora. Esperamos um número maior de bandas que enviem material. Este ano recebemos material de mais de cem bandas, mas muita banda de fora, queremos conhecer mais bandas de Sergipe, do interior de Sergipe. E dar um jeito de divulgar esse material.
Jefeson: Teve uma galera de Pernambuco, Paraíba, Ceará, Rio, São Paulo.
Danilo: Infelizmente só podemos escolher de 14 a 16 bandas. Mas queremos divulgar o restante do material.

Bis!: Vocês têm planos para incrementar o festival?

Jefeson: Esse ano já rolou um diferencial, tivemos a apresentação de uma peça.
Danilo: E também a presença do graffiti. Enquanto as bandas tocavam, o pessoal fazia um graffiti que fez parte da decoração do palco.
Jefeson: Nossa idéia é tornar o festival multicultural. Nesse ano, por conta da verba e da logística, não pudemos convidar um fotógrafo para expor no evento. Mas a nossa idéia é mostrar a música e todas as manifestações que a envolvem.
Danilo: A idéia é ganhar espaço, agregar e ampliar.

Bis!: Essa ampliação pode um dia ganhar outras cidades?

Jefeson: Já vem ganhando: em paralelo ao Rock Sertão surgiu o Rock Provincial, um festival com dimensão bem menor, mas que já teve várias edições pelo interior.
Danilo: O Rock Provincial é algo bem menor, mas que já tem dado muito certo. Em [Nossa Senhora das] Dores já vamos para a quarta ou quinta edição. Fizemos também em Glória... Já teve em Moita Bonita, Canindé.
Jefeson: Infelizmente ainda tem as mesmas dificuldades em relação a apoio que o Rock Sertão. Ainda é difícil levantar grana para que aconteça.
Danilo: Dependemos dos contatos que temos em outras cidades.

Bis!: Que tipos de contato vocês buscam nessas outras cidades?

Jefeson: Geralmente são pessoas que conhecemos por intermédio do Rock Sertão.
Danilo: O pessoal conhece a gente, gosta do Rock Sertão e pede apoio para realizar algum projeto na sua cidade. A coisa anda na medida em que as pessoas vislumbram que, apesar das dificuldades, existe a possibilidade real de fazer um outro tipo de música, um outro tipo de manifestação cultural. O movimento é lento, e passamos por um período de queda desses festivais.

Bis!: Vocês atribuem essa queda ao quê?

Danilo: À falta de apoio.
Jefeson: Como sempre, dificuldade no apoio para a realização.
Danilo: E apoio também do público.
Jefeson: Por mais que uma boa parte dê uma força grande na divulgação e realização, tem outra parte que não ajuda, e uma terceira que tenta dificultar.
Danilo: Temos ótimas bandas no Estado, mas também o público não prestigia, prefere escutar covers a bandas que desenvolvem um trabalho autoral sério. Me impressiona as pessoas não escutarem uma Plástico Lunar, uma Mamutes.

Tem banda e quer enviar material? Entre em contato com a produção do Rock Sertão através do e-mail
mailto:%20material@rocksertao.com.br.

Mais:
Site do Rock Sertão

Por Ricardo Gomes


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